O rio e a sua bacia hidrográfica

O rio que dá nome à nossa terra, e que a atravessa sensivelmente a meio, numa orientação aproximada Norte-Sul, nasce em Ermesinde, no concelho de Valongo, a cerca de 200 metros de altitude, e desenvolve-se ao longo de 10, 6 Kilometros, indo desaguar no rio Douro, no Freixo, no concelho do Porto. O rio Tinto tem uma extensão de 5823 metros no município de Gondomar.

A sua bacia hidrográfica ocupa cerca de 2200 hectares dos concelhos de Gondomar, Porto, Valongo e Maia ( por ordem de importância). Atinge uma altitude máxima de 227 metros, junto à cabeceira do rio, dominando nela as formações graníticas. A parte norte da bacia apresenta um relevo um pouvo mais plano.

As maiores elevações, rondando os 150 metros, registam-se no cume da Areosa, concretamente na Giesta e coincidem com um afloramento granítico bem visível nas pedreiras da Triana. As características do relevo que acabamos de referir são, de algum modo, confirmadas pelos topónimos: Varziela (pequena planície cultivada), Chão Verde (lugar plano), Valflores (vale Flores), Boavista (elevação que possibilita amplo panorama), Miradouro.

No que diz respeito ao rio, este apresenta três zonas distintas em termos altimétricos:

  • Desde a nascente até à proximidade do Kilometro 8,6 o declive longitudinal do curso de água é  acentuado, com valores médios de cerca de 5%;
  • Entre o km 8,6 e o km 5,2, em que se verifica um decréscimo da pendente da linha de água, com valores médios de 1%;
  • Finalmente, na fase terminal do Rio Tinto, o declive longitudinal do Rio Tinto decresce para valores médios de 0,2%.

A este propósito, nas Memórias Paroquiais de 1758 pode ler-se:

“Está situada em um comprido vale, que principia abaixo da igreja da freguesia e finda na aldeia de Baguim do Monte, ou vaga do monte, que é parte da serra de Valongo…”

Quanto ao tipo de rochas a bacia do rio Tinto é fundamentalmente dominada por rochas graníticas  que ocupam grande parte da zona central e ocidental da bacia. Nas periferias da zona granítica existem rochas do complexo xisto-grauváquico ante-ordovício. Ao longo das margens do Rio Tinto encontram-se depósitos mais recentes (idade plio-pistocéncica) sob a forma de terraços fluviais e depósitos argilosos de fundo do vale.

O rio Tinto é um pequeno afluente do rio Douro que, apesar de se localizar numa região relativamente pluviosa, não apresenta caudais muito significativos, mesmo em ocasiões de cheia, provocando no entanto alguns danos quando tal acontece por muito do seu leito de cheia ter sido ocupado pelo Homem.

Tem alguns afluentes como a Ribeira da Castanheira que nasce na zona da Areosa e que tem as suas águas com  relativa qualidade, e a Ribeira da Granja que nasce em Águas Santas 8Maia) e dasegua no rio Tinto no lugar de Medancelhe.

Os solos predominantes na bacia do Rio Tinto:

  •  Os cambissolos húmicos – solos litólicos húmidos, derivados principalmente de granitos ou de xistos, que constituem o tipo de solo mais abundante, ocorrem na maior parte das zonas arborizadas.
  • Os fluvissolos dístricos – aluviossolos não calcários, derivados de depósitos aluvionares recentes, normalmente de grande espessura efectiva e situados no fundo do vale ou nas imediações das principais linhas de água.

A caracterização florística ao longo do rio é muito difusa e confina-se apenas a manchas em áreas menos densamente povoadas, nomeadamente na zona do Caneiro, Campainha, Ponte.

Ao longo do rio algumas espécies arbóreas mais comuns são: Amieiros, Choupos, Salgueiros, Carvalho, Sobreiro, Ligustro, Sabugueiro, Acácia, Bordo, Plátanos e Ulmeiros, embora nunca em grandes manchas florestais.

Durante séculos, o rio teve águas límpidas e  forneceu à população água e peixe (bogas, escalos e enguias) e a pequenada banhava-se nelas nos dias de estiagem. As lavadeiras ganhavam a vida nas suas águas, multiplicavam-se nas margens os moinhos, cujos moleiros disputavam com os lavradores a água das regas.

Ligados às linhas de água, para além do nome do rio e da terra, temos: Regueirais, Levada, Caneiro, Rego de Água, Moinhos,(…)

Assim, ao longo de milénios, se foram formando terrenos propícios para a atividade agrícola que foi, em tempos ainda não muito recuados, a principal atividade económica da freguesia. Antes duma ocupação populacional mais intensa, existiriam áreas florestadas com árvores de grande porte e que faziam parte do coberto vegetal natural da região e ainda presente na toponímia: carvalhos (carvalheiras), castanheiras (Souto, Soutelo, Castanheira) e pinheiros (Pinheiro); nas terras mais baixas, alagadas no Inverno, eram os choupos, os freixos e os amieiros (Amial). O sobreiro também devia ser frequente, atendendo aos vestígios que ainda existem e que também se tem vindo a destruir apesar de se tratar de uma espécie protegida.

A vegetação rasteira era constituída essencialmente por: tojo, urze, silvas e giestas. Destas espécies ainda existem vestígios e ficou-nos o topónimo: Giesta. Com o decorrer dos anos, à medida que a ocupação humana se foi intensificando, a vegetação foi-se alterando. Desbravaram-se arvoredos e matagais que deram origem a campos de cultivo (Cavadas, Cavada Nova, Arroteias, Granja, Varziela, Monte das Searas) e foram introduzidas novas espécies como as árvores de cultivo (Oliveiras) e o eucalipto.

O clima é temperado  sofre a influência da proximidade do oceano, esbatendo, assim, as amplitudes térmicas per diurnas quer anuais, dando origem a chuvas, praticamente, ao longo de todo o ano, sobretudo nos meses que correspondem ao Outono, Inverno e Primavera.

Os ventos dominantes são no Inverno do quadrante sudoeste e no Verão do quadrante noroeste, a chamada nortada, contribuindo para a amenização das temperaturas. Nas poucas vezes em que o vento sopra dum quadrante continental (este) nota-se logo nas temperaturas: mais frias no Inverno e mais quentes no Verão. Dum modo geral, as geadas não são tao intensas, como em outras freguesias do concelho de Gondomar que ficam mais no interior e é muito rara a queda de neve.

As características naturais que acabamos de descrever fizeram com que a região conhecesse uma ocupação humana desde tempos muitos remotos. A falta de planeamento e de ordenamento do território levou à criação de um território que nos últimos anos perdeu considerávelmente qualidade de vida.

Hoje em dia é o que todos conhecemos: uma ocupação caótica, com volumetrias, idades, cores, alinhamentos, (…) diversos e até o rio durante a última década do século XX,  foi alvo de um crime ecológico, tendo uma parte considerável da sua extensão sido entubada e enterrada a alguns metros abaixo da superfície do solo, de forma a facilitar a expansão urbanística do município.

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