Rio Tinto e o Cerco do Porto

Após a revolução Liberal, iniciada no Porto, em 24 de Agosto de 1820, – daqui o topónimo “Campo 24 de Agosto”, na cidade do Porto -, forte agitação social e politica varreu o país de norte a sul.
A guerra civil que opôs absolutistas, partidários de D. Miguel e do regime do deposto em 1820, e os liberais, partidários de D. Pedro e das ideias novas de liberdade e igualdade dos cidadãos, do poder partilhado e não poder concentrado e absoluto nas mãos do rei, teve momentos altos do seu desenrolar da sua terra.
D. Pedro, imperador do Brasil, ao abdicar na sua filha, D. Maria da Glória, futura D. Maria II, e combinar o casamento desta com o tio de D. Miguel, assegurou da parte deste o juramento de que respeitaria a Carta Constitucional. No entanto, tal não aconteceu: D. Miguel faz-se aclamar Rei Absoluto em 11 de Julho de 1828 (coincidência – é o dia em que Rio Tinto festeja o S. Bento).
Começaram as perseguições a todos os defensores da causa liberal, entre estes nomes célebres como Almeida Garrett e Alexandre Herculano, que tiveram que se exilar em Inglaterra. Os ecos desta situação rapidamente chegaram ao Brasil, onde D. Pedro (figura extraordinária da nossa Historia), que tinha proclamado a independência no Brasil e foi o seu primeiro imperador, abdica da coroa brasileira e vem defender o regime e os direitos da sua filha, D. Maria da Glória. Assumindo como regente de Portugal, D. Pedro IV com um exército de 7500 soldados e 700 civis desembarca em Arnosa de Pampelido/Mindelo e dirige-se ao Porto, onde dá entrada a 9 de Julho de 1832.
Vai iniciar-se o terrível cerco do Porto, que durou um ano. A população e os defensores liberais acabam por ficar cercados pelas tropas miguelistas.
É fácil de perceber que o exército absolutista tinha mais homens e mais possibilidades de se reforçar. Em Janeiro de 1833 havia cerca de 17668 liberais contra cerca de 35000 absolutistas.
Várias tentativas fazem os soldados cercados, chefiados pelo seu rei e apoiados por toda a população da cidade, para furar o cerco. Nestas tentativas, as regiões limítrofes vão ter um papel importante e também dramático. Pela nossa vila passaram as tropas liberais que, comandadas pelo tenente – coronel Hodges, que conquistaram Penafiel. Esta ocupação é efémera; as tropas recuam até ao porto, por Rio Tinto. Perante a concentração de forças de Santa Marta e Povoas, D. Pedro manda atacar Valongo; as suas tropas comandadas pelo conde de Vila Flor, Duque da Terceira, caem numa emboscada junto de Ponte Ferreira, o que as faz recuar até Rio Tinto.
Uma vez nesta localidade, o Conde de Vila Flor ordenou que três colunas, dirigindo-se a S. Cosme, Valongo e caminho da Formiga, cercassem os Miguelistas.
Assim, no dia seguinte, atacaram os inimigos a quem vencem, mas mais uma vez não asseguraram a vitória, por lhes faltar a cavalaria.
Em 21 de Julho fecha-se o cerco á cidade que ficou envolvida por uma série de redutos a que corresponde aos liberais a construção das linhas de defesa (trincheiras, plataformas para instalação de artilharia, fossos, estacadas, que impedissem ou retardassem um ataque.De tal modo esta zona teve recontros violentos que uma das versões da lenda do nome Rio Tinto aparece, por muitos, ligada a estes recontros sangrentos; também o topónimo Rua do Cerco do Porto é significativo do peso da História dessa época na actualidade e nesta região (fica – como sabemos – junto à entrada de Rio Tinto, por S. Roque da Lameira).
Voltando ao cerco: enquanto a “ engenharia” militar prepara as linhas de defesa, os liberais em 8 de Agosto recebem alguns reforços (10 000 armas de fogo, munições e fardamento) a que se segue em 11 de Setembro um reforço de 150 marinheiros ingleses.
A 8 e 9 de Setembro os absolutistas atacam a Serra do Pilar e a cidade do Porto. Dá-se um ataque geral dos miguelistas que, a coberto do nevoeiro e investindo pelo lado de Campanhã, atingem a Rua do Prado, defrontando a heróica resistencia da população, o que os faz recuar para Gaia (em honra de tão acérrima defesa, esta rua veio a ser baptizada de Rua do Heroísmo). Quatro mil miguelistas perdem a vida.
O Inverno de 1832 foi terrível para os sitiados. Ao frio e à fome (apenas não faltava o vinho do Porto, que sempre dava alguma animação), juntou-se a cólera.
Para o abastecimento da cidade contribuíram as regiões limítrofes e, sendo Rio Tinto uma área predominante rural, certamente terá contribuído com a sua quota-parte para a alimentação dos sitiados, embora fosse ocupada em grande área e em certos momentos pelos absolutistas: o próprio D. Miguel pernoitou na noite do dia 18 de Dezembro de 1832 no passal de Rio Tinto, dado que a 19 se encontrava em Valongo.
O começo de 1833 encontrou os liberais numa situação dramática; a capitulação parecia iminente…
Em Junho de 1833, o Duque da Terceira parte para o Algarve e derrota a frota miguelista junto ao Cabo S. Vicente e avança até Lisboa onde entra triunfalmente em 24 de Julho.
Embora a norte se tente ainda desesperadamente entrar na cidade, a defesa comandada por D. Pedro, já muito doente, consegue ainda resistir.
Sentido-se ameaçados a sul, os miguelistas abandonam o cerco. O marechal Saldanha vai limpado todos os redutos inimigos à volta do Porto. Toda a população da cidade e arredores comemorou com alegria o fim do duro cerco.
Há canções heróicas que se cantavam entre duas refregas. A população tinha decidido vencer ou morrer – muito diferente não seria o espirito dos riotintenses. Da época das lutas liberais, destacamos alguns riotintenses que, pelas suas ideias, foram vítimas de repressão miguelista: Joaquim Ferreira e Manuel Coutinho de Azevedo, presos entre 1828 e 1830.

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