Os Ceguinhos

Os “ceguinhos”, nome que ficou pelo facto de, no início desta “profissão” de outrora, os cantadores serem cegos, sobretudo e também os que tocavam acerca deste tema do volfrâmio e dos volframistas que naquela já algo recuado época, constituíram uma autêntica “nova sociedade”, isto é, um novo extracto social denominado de os volframistas, dedilharam as suas loucuras exibicionistas em todos os tons.

Então, o tal fadinho, continha, entre outras esta quadra: “E até na rua escura/ e na viela dos gatos/ Há volfrâmio com fartura/ Por preços muito baratos”.

Para quem sabe onde é a Rua Escura e a Viela dos Gatos (com este nome era mesmo só para, depois, rimar) e apreciar o fino e inteligente humor popular, sabe onde é o autor da quadra queria chegar.

Por fim, e ainda relativamente ao volfrâmio, minério então valiosíssimo e que enriqueceu muita gente (naquela altura mais valioso que o ouro), aconselho a quem quiser ficar por dentro das grandezas e misérias que o mesmo provocou, a leitura do romance de Aquilino Ribeiro, precisamente intitulado “volfrâmio”.

Já os cantares ao desafio aconteciam aos domingos de tarde, nomeadamente nos largos junto das igrejas, onde existia ou se construía um palanque, rapidamente feito com tábuas de madeira de pinho.

Cantava um homem e uma mulher, que improvisavam consoante o caminho que a cantoria levasse, e iam molhando a palavra, isto é, entremeavam as palavras com vinho ou receitas (mistura de vinho com cerveja – geralmente preta – e açúcar). Também comiam tremoços e azeitonas e uma ou outra sande de presunto, de chouriço ou iscas de bacalhau.

Quando entardecia, já o entalhamento da voz era notória, de tal modo que mal se percebiam as cada vez mais causticas letras das quadras.

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